Estaduais, o maior dos nossos problemas

O futebol brasileiro possui uma infinidade de problemas, o que muitas vezes dificulta a escolha de um que seja tratado como o mais significativo. Nessa minha coluna nesse novo espaço vou procurar mostrar que de todas as dificuldades que temos atualmente no nosso futebol, sem dúvida a maior delas é a existência dos Campeonatos Estaduais.

Embora pareça exagerado esse é de longe o maior empecilho para o desenvolvimento do nosso mercado. As federações estaduais, donas dessas competições, conseguem mantê-las vivas graças aos acordos políticos alimentados pela CBF. Assim, as Federações e a CBF obrigam que todo o futebol brasileiro seja refém desse atraso.

As 27 federações e a CBF não estão preocupadas com os impactos que seus acordos de manutenção no poder causam ao nosso mercado.

Todo ano a história se repete, a temporada do futebol brasileiro começa com jogos sem a menor importância, com públicos ridículos, sem apelo junto aos torcedores e patrocinadores.

Além dos estádios vazios, as audiências televisivas também são péssimas, provando que todos os envolvidos com futebol no Brasil pagam um alto preço para manter no poder aqueles que não querem o bem do futebol nacional. Na prática o único objetivo é a manutenção dos mesmos no poder.

A CBF e as federações acham normal que a temporada do futebol brasileiro comece sem nenhum apelo, ou pior atrapalhando o que realmente importa, os jogos da Libertadores da América e a preparação para a principal competição do ano, o Campeonato Brasileiro.

Somente no Brasil, por conta de tudo que descrevi acima, a temporada tem inicio com uma competição que na prática já morreu e esqueceram de enterrar. Quando os times começam o Campeonato Brasileiro, já se foram meses de disputa de campeonatos sem importância, e pior com jogadores contundidos.

Afinal, o Estadual não é apenas maléfico para as finanças dos clubes, mas também para todo o planejamento da temporada. Portanto, não é difícil perceber o quão negativo é para toda a cadeia produtiva do futebol.

As federações se mantém firmes no comando das decisões e influenciando os caminhos do futebol brasileiro, mesmo sendo arcaicas, despreparadas e incompetentes.

O exemplo que ocorreu na guerra entre Flamengo, Fluminense e FERJ comprova tudo isso. Os dois times entraram em rota de colisão com a federação e hoje sofrem represálias por parte da CBF, como se não fizessem parte da entidade máxima do futebol brasileiro.

A CBF age como se os interesses das federações fossem muito mais importantes que nossos clubes. É exatamente nesse ponto que há a comprovação do mal que esse modelo desgastado está causando ao nosso futebol.

Os clubes precisam agir e pressionar conjuntamente suas federações. O problema é que muitos desses clubes, mesmo sofrendo nas mãos dos que definem seu futuro, nada fazem. Ou por conivência, medo ou despreparo.

E nesse ambiente o futebol brasileiro continua na UTI.

A solução é acabar com os estaduais e fazer com que os times menores tenham um calendário anual de partidas em um campeonato nacional regionalizado. Nesse modelo todos podem ter um calendário digno e assim não precisam se desfazer de seus times em abril de cada ano. Ou manter-se em atividade sem a menor viabilidade financeira.

O futebol brasileiro precisa sair das trevas. Mas isso somente vai acontecer quando os estaduais deixarem de existir, e as federações de protagonistas se transformarem em coadjuvantes.

Essas mudanças obrigarão a CBF a olhar para os clubes, que são a razão de existir do futebol. O torcedor, os patrocinadores, os veículos de comunicação, o setor público, todos vão ganhar com essas alterações.

Se nada for feito, vamos continuar assistindo às federações estaduais mandarem em nosso futebol, mesmo sendo irrelevantes em termos esportivos, financeiros e mercadológicos.

 

Fonte: Somoggi (Lance)