Sem organização não há excesso de vontade que resolva

Para grande parte dos torcedores a derrota de seu time é o resultado da falta de vontade dos jogadores em campo – o restante culpa a arbitragem. Cada vez é mais comum ouvir o grito “raça” vindo das arquibancadas. Entendo que o torcedor deseja que cada jogador se comporte em campo como um apaixonado que está na arquibancada, mas o que decide mesmo uma partida, muito mais do que o excesso de vontade, é a organização e também jogadores que saibam jogar futebol.

O excesso de vontade exigido fez que uma geração de jogadores apenas esforçados e voluntariosos se tornassem ídolos. Não me conformo com os torcedores delirando quando um zagueiro sozinho dá um bico para a lateral; aplaudindo um atleta dá um carrinho inútil com a bola já fora campo; e vibrando com o atacante desviando um passe do adversário.

Também não aceito os aplausos para aquele tipo de volante medíocre que não acerta um passe de 15 centímetros, mas corre muito para dar um carrinho, faz um desarme e depois devolve a bola para o adversário. Com a cultura que apenas a raça importa, alguns jogadores técnicos são chamados de lentos ou sem garra.

Pode não parecer, mas em um time dominado e mal arrumado os jogadores se desgastam muito mais do que os adversários. Correr atrás de um time que sabe tocar a bola mina a condição atlética de qualquer jogador. Também como o time é desorganizado, os atletas precisam correr bem mais para fazer uma cobertura ou precisam dar um longo pique atrás de um adversário que recebeu uma bola livre.

Uma equipe pode ter 11 jogadores classificados orgulhosamente como raçudos ou guerreiros, mas se ela for desorganizada, vai passar a sensação que o adversário tem mais jogadores em campo. Sempre haverá jogadores livres do rival, o que leva a torcida do time que não está com a bola não se conformar que não ninguém aparece para marcar o adversário.

Do mesmo jeito que, quando a equipe sem nenhum padrão tático pega a bola, um jogador é obrigado a correr, conduzindo a pelota, pois não há nenhum companheiro por perto. Isolado, ele vai perder a bola. Aí, o resto da equipe vai ter que correr mais para tentar recuperar a bola.

Atualmente, equipes como Corinthians, Grêmio e Botafogo, por exemplo, são enaltecidas também pela determinação e vontade dos seus jogadores. A grande verdade é que essas equipes são organizadas ao extremo e os jogadores sabem o que fazer em campo. Assim, por exemplo, os jogadores desses times conseguem ter fôlego extra para desarmar um adversário, fazer uma antecipação ou puxar um contra-ataque para decidir a partida nos últimos minutos.

Não adianta só exigir garra, pois no futebol nunca adiantou correr demais se não se sabe como e para onde. Em um time perdido, nem o empenho dos jogadores aparece.

Fonte: Peron na arquibancada