Porque a Band rompeu com a Globo?

A Band acabou com a submissão. Cansou de perder dinheiro e audiência com o futebol. Não transmite mais o Brasileiro, a Copa do Brasil, o Carioca. A Globo assume de vez o monopólio neste país…

A fórmula ficou cruel demais para a Bandeirantes. Aliás, sempre foi. Desde o início do ano a direção da emissora já havia chegado à conclusão. Era o momento de romper as amarrar. Sair do cativeiro. O futebol se tornou inviável para a quarta emissora do país. Não por acaso, havia aberto mão da transmissão da Copa do Brasil e do Carioca.

Decidiu não transmitir mais os jogos do Brasileiro da Série A. Deste ano e dos próximos. Não tem o direito da Libertadores da América. A tendência é que faça o mesmo com os Estaduais. Foi rompida a parceria de dez anos. O monopólio do futebol no país ficou de vez com a Globo.

A fórmula desenvolvida pela emissora carioca acabou com oxigênio financeiro da Band. A Globo gasta cerca de R$ 1,2 bilhão com os clubes do Brasileiro. Desde que conseguiu implodir o Clube dos 13, em 2011, a emissora negocia diretamente com cada equipe. Os valores foram subindo absurdamente.

“O que acontece é que fomos percebendo o quanto vendíamos barato o futebol no Brasil. E passamos a exigir o que merecemos”, diz o presidente do Santos, Modesto Roma Júnior.

Os clubes passaram a exigir luvas da emissora, para vender os direitos da aberta e da fechada juntos. O aparecimento do Esporte Interativo, da Turner, foi um grande obstáculo. E que encareceu demais o futebol. Ótimo para os clubes. Péssimo para a Globo.

A Bandeirantes estava amarrada a um contrato draconiano. Era obrigada a mostrar os mesmos jogos que a Globo. Ou seja, até por uma questão de qualidade advinda do dinheiro, com câmeras exclusivas, a tendência dos telespectadores era de acompanhar a partida na emissora carioca. A proporção, em média, era de cinco vezes mais audiência na Globo.

A Band era proibida de mostrar outra partida. Por exemplo, se Corinthians e Flamengo jogavam ao mesmo tempo que São Paulo e Palmeiras, a Globo obrigava que só um jogo chegasse aos telespectadores. Era uma maneira de impedir uma concorrência verdadeira no futebol.

Esse foi o motivo de rompimento, por exemplo, com a Record, de quem foi parceira antes da Bandeirantes.

Os patrocinadores foram fugindo da emissora paulista. Os custos se tornaram inviáveis.

A Globo cobrava cerca de 10% do que pagava aos clubes da Band. Eram cerca de R$ 120 milhões. Mais o custo de transmissão dos jogos. Satélites, deslocamento de equipamento, viagens. O total batia nos R$ 50 milhões pelo torneio todo.

A pá de cal veio com a queda da audiência do futebol na tevê aberta. São cerca de 22% nos últimos dez anos. Os índices não param de diminuir. Os clubes não têm qualidade e nem estrelas que atraiam o telespectador.

Mais a profunda recessão econômica que o país está mergulhado.

Tudo se tornou inviável para a Band.

Custos mais altos, menos audiência, fórmula desgastada.

“Durante as últimas dez temporadas, Band e Globo caminharam lado a lado na exibição do Campeonato Brasileiro de Futebol da Série A, com mútuos benefícios e em perfeita sintonia. Contudo, em que pese o enorme esforço de ambas as empresas para viabilizarem a continuidade da exposição conjunta dessa competição, o agravamento da crise econômica impediu a Band de prosseguir com esse licenciamento, a partir da temporada 2016. Globo e Band reiteram que essa decisão foi tomada em comum acordo e dentro do mais elevado espírito de cooperação que caracteriza seu relacionamento de muitas décadas e que prossegue em outros eventos esportivos e institucionais.”

Esse foi o comunicado oficial divulgado pela Globo e Bandeirantes. Ficou público que os custos do futebol ficaram inviáveis para a Bandeirantes.

A emissora promete não mandar seus profissionais embora. Mesmo não tendo o Brasileiro para transmitir. Mas passará por uma reformulação. O Terceiro Tempo de Milton Neves, vai virar uma mesa redonda. Sem as imagens imediatas dos jogos. A atração é lucrativa. Já que mostra, em média, 12 inserções comerciais durante o programa. Durante o domingo e quartas, os horários que eram do futebol, serão de filmes, séries ou reality shows.

Para não caracterizar o monopólio, a Globo pode repassar o mesmo esquema que tinha com a Bandeirantes. Para a sua velha parceira, a Rede TV! Cobrando menos do que os 10%, talvez 5%. Só por uma questão de evitar se apresentar como dona do futebol no Brasil. A Rede TV! já mostra a Segunda Divisão, graças a uma negociação com a Globo.

A princípio, a Record está com sua programação consolidada. Gugu às quartas e Rodrigo Faro aos domingos. Programas de boa audiência e ótimo faturamento.

Silvio Santos já deixou claro que não confia nos dirigentes do Brasil. E mantém distância do futebol. Está satisfeito com as quartas. Com o Pra Ganhar é Só Rodar e com o Programa do Ratinho. Nos domingos, o horário dos jogos é da Eliana.

A Bandeirantes já teve como slogan, o “Canal do Esporte”, na época de Luciano do Valle. Com direito ao domingo repleto de transmissões esportivas. De manhã até a noite. Isso quando não havia tevê a cabo no Brasil.

A direção da emissora paulista quer uma mudança do perfil. Aproveitar a crise financeira e se livrar dos gastos e da péssima audiência do futebol brasileiro.

A Globo sabotou o Clube dos 13 em 2011. Porque tinha de verdade concorrência na domínio do futebol do país. Não quis compor com as emissoras que tentavam dividir a transmissão. Ela mesmo supervalorizou um produto que é francamente decadente.

E agora está encurralada.

Os clubes não querem nem saber. Muitos já assinaram contratos mais do que valorizados até 2024. Por conta da pressão do Esporte Interativo. A emissora do Rio de Janeiro terá de cumprir suas obrigações.

Pior para o telespectador. A Anatel mostra que apenas 18,9 milhões de pessoas têm tevê a cabo no Brasil. O IBGE mostra que o Brasil tem 205 milhões de pessoas.

Assim como as novelas da Globo acabam com o sotaque regional, o torcedor de futebol em São Paulo só terá a transmissão de Galvão Bueno e Cléber Machado. As opiniões de Casagrande e Caio. Só. Até agora, nenhuma outra visão nas tevês abertas. Isso é péssimo em todos os sentidos.

Mas a Globo literalmente paga pelo que provocou.

Superestimou um produto decadente por medo da concorrência.

E agora terá de arcar com ele.

A Bandeirantes despertou.

Acabou com dez anos de submissão e prejuízo.

De uma parceria que era boa só para um lado.

O da Globo…

Fonte: Cosme Rímole