Perrone: “Relator do Profut instiga clubes a encarar CBF na Justiça, mas falta união”

Relator do Profut, lei responsável por refinanciar as dívidas fiscais dos clubes, o deputado Federal Otávio Leite (PSDB-RJ), instiga os dirigentes a entrarem na Justiça para anular a assembleia que mudou o estatuto da CBF na última quinta. Porém, mesmo indignados por não terem sido chamados para participar do encontro, atitude ilegal segundo o tucano, os cartolas não se mobilizaram até agora para tentar anular nos tribunais o encontro que deu poder maior de voto para as federações em relação às agremiações .

Alguns dos principais cartolas do país são céticos em relação às chances de anular a assembleia, como sugere o deputado, e apontam, reservadamente, falta de união entre os clubes para isso.

“Folha que caiu da árvore não volta mais”, disse ao blog Modesto Roma Júnior, presidente do Santos, resumindo o sentimento de quem não tem esperanças de ver a decisão da CBF ser modificada, apesar de não ter gostado da atitude da entidade de não convocar os clubes. O blog conversou com ele e outros dirigentes antes da sugestão do deputado para entrarem na Justiça e nenhum deles aventou essa possibilidade.

Daniel Nepomuceno, presidente do Atlético-MG, nem entrou na discussão sobre o fato de os clubes não terem sido convocados. Extremamente descontente com a situação, ele critica duramente o peso diferenciado dado à participação de federações e clubes nas próximas eleições da CBF. O voto delas terá peso três, os das equipes da Série A terão peso dois e os da Série B um. Antes, só votavam entidades estaduais e times da primeira divisão com pesos iguais. Mas o Profut mudou a Lei Pelé e incluiu os clubes da Série B no colégio eleitoral, evitando que as federações fossem maioria. Porém, a confederação manteve o poder nas mãos delas com a reforma estatutária.

“A CBF criou critérios distintos. Clubes das Séries A e B têm votos com pesos diferentes. E os da C nem votam. Mas federações com times só na Série C ou nem na C têm o mesmo peso das federações com equipes na primeira divisão. Clube pobre não tem voz, mas federação pobre tem”, disparou o presidente do Galo.
Ele também contesta o fato de entidades que não representam agremiações que estejam nas Séries A e B terem voto mais “pesado” do que equipes da elite. “Quem paga o futebol brasileiro tem peso menor”, disse o atleticano.

Outro que está contrariado é Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo. “Não concordo (com a mudança e a maneira como ela foi decidida). O espírito do Profut, que deu poder de voto aos clubes da Série B era no sentido de clubes e federações terem igual poder de voto”, declarou Bandeira.

Se quiserem comprar a briga, os cartolas terão Leite como aliado.

“A assembleia foi ilegal e teve o objetivo de manter o status quo que é pré-histórico. O direito dos clubes de participar da assembleia é líquido e certo. No meu entender cabe a eles se insurgir politicamente e juridicamente contra essa situação”, disse Leite ao blog.

Ele afirma já estar se movimentando para tentar anular a assembleia. “Como relator do Profut não vou aceitar esse retrocesso. Estou em contato com a consultoria da Câmara para estudar o que pode ser feito”, afirmou.

O parlamentar sustenta a irregularidade da assembleia com os artigos 22 e 22 A da Lei Pelé modificados pelo Profut. Além de incluir os clubes da Série B no colégio eleitoral, ele diz que a “os votos para deliberação em assembleia e nos demais conselhos das entidades de administração do desporto serão valorados na forma” do artigo que determina a participação dos times das duas principais divisões no colégio eleitoral. Ou seja, com a inclusão dessas agremiações na assembleia que alterou o estatuto na interpretação do relator do projeto de lei.

Outro lado

Procurado, Walter Feldman, secretário-geral da CBF, não respondeu sobre a acusação de irregularidade afirmando que o departamento de comunicação da entidade já estava em contato com o blog. Porém, nenhuma resposta foi enviada até a publicação deste post. Ao Blog do Rodrigo Mattos, Feldman havia defendido a não convocação dos clubes para a assembleia administrativa sustentando que isso não está previsto nas regras.

Reprodução: Uol