Globo recua e promete estilo inglês na divisão das cotas

Luis Augusto Simon é um dos jornalistas esportivos mais sérios do país. Nos conhecemos há décadas. Fomos colegas no extinto Jornal da Tarde. Assim como o destino me reservou 17 anos cobrindo o Corinthians, grande parte de sua carreira foi dedicada ao São Paulo. Normal que eu tenha melhores fontes no Parque São Jorge. E ele no Morumbi.

O vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro está pressionado. Sabe que oposição e situação querem que deixe o cargo. Os motivos são variados. Os principais. Sua relação com o ex-presidente Carlos Miguel Aidar. As várias denúncias que fez, revelada por e-mail, por esse blog, precipitaram a renúncia do ex-dirigente. Mas as críticas são que Ataíde demorou muito para agir, com o futebol cercado de sujeira.

E também há os famosos ‘cardeais’, dirigentes que consideram fundamental qualquer sócio seguir o estatuto do clube. E, para eles, é inaceitável um vice presidente agredir, tentar enforcar um presidente. Como ele mesmo assumiu ter feito com Aidar.

Além disso, os fracos resultados do futebol também contam. A falta de dinheiro, herança de Juvenal e Aidar, trava o clube. E atrapalha o polêmico dirigente.

Carlos Augusto Bastos e Silva sonhou em ser presidente. E já aspira a reeleição. Ele era da ala do falecido Juvenal. Ligado a Aidar. Leco não quer escândalos no clube. Tanto que as várias denúncias gravíssimas levantadas por Ataíde estão abafadas. Ele espera que um título apague a memória de todos.

Mas Leco não está conseguindo escapar da pressão pela demissão de Ataíde.

E o vice de futebol do São Paulo age como se estivesse nos últimos dias de comando.

Tanto que tem resolvido abrir a Caixa de Pandora do Morumbi.

Ao contrário do discreto Leco, ele resolveu escancarar os problemas. Assumiu os atrasos de direito de imagem, salários e premiação da Libertadores. Falou de forma estranhamente aberta sobre a greve dos jogadores. Sobre Michel Bastos.

E também falou à Transamérica sobre a briga entre Globo e Esporte Interativo (Turner) sobre a transmissão do Brasileiro na tevê fechada.

“O São Paulo não decidiu ainda, mas quando tomar uma decisão, garanto que não receberá empréstimo, será dinheiro de luvas. Não sabemos se assinamos com a Globo ou o Esporte Interativo. Existe um pré-contrato aprovado com a Globo, que só poderá entrar em vigor quando for aprovado pelo conselho deliberativo.”

Mas Menon não se conformou. E teve a chance de questionar Ataíde sobre essa guerra particular. Como quem já se tornou adepto da expressão ‘dane-se’, o dirigente escancarou a questão.

E Luis Augusto colocou no seu blog, no UOL.

Mensagem escrita pelo próprio dirigente.

“A Globo assinou com CORINTHIANS – Atlético Mineiro – Cruzeiro – Vasco – Botafogo- Vitória e Sport Recife assim:

Empréstimo de 40 milhões com devolução à partir de 2019 com juros e correção. Redução de 25 por cento nos contratos de tv aberta em 2.016:7/8.

” (A Globo) Fez esta mesma proposta para o SPFC.
Não aceitamos e estendemos a negociação inclusive com o Esporte Interativo.
Hoje não decidimos ainda, a decisão será terça no Conselho Deliberativo, temos duas propostas:

Globo:
Contrato de 2019 a 2024
Luvas 60 milhões (não é empréstimo)
Não reduzir os contratos atuais como os outros clubes assinaram
A partir de 2019 acabar com os privilégios do Corinthians e do Flamengo.

A distribuição da tv aberta e tv fechada de 1 bilhão e 100 milhões será assim:

40 por cento dividido pelos 20 clubes igualmente , 30 por cento pela classificação no campeonato e os outros 30 por cento pela exposição na tv.

Esta distribuição e a maior vitória do SPFC.

Esporte Interativo

40 milhões de luvas.

560 milhões apenas para a tv fechada com a seguinte distribuição:

50 por cento dividido igualmente entre os 20 clubes
25 por cento na classificação no campeonato
25 por cento exposição na tv medida pelo Ibope

Se houver retaliação da Globo na tevê aberta o Esporte Interativo nos indenizará .

A decisão será terça no Conselho Deliberativo.”

A revelação tem pérolas importantíssimas.

Sempre levando em consideração que é a palavra de Ataíde.

A primeira e mais importante. A Globo está disposta a acabar com o privilégio ao Corinthians e Flamengo. Situação que nasceu em 2011, com a implosão do Clube dos 13. A distribuição das cotas de tevê passaria a ser democrática, imitando o sistema inglês.

40% dividido pelos 20 clubes igualmente , 30% pela classificação no campeonato e os outros 30% pela exposição na tevê.

O Esporte Interativo vai pelo mesmo caminho. Mesmo se tratando apenas de tevê fechada.

50% dividido igualmente entre os 20 clubes
25% na classificação no campeonato
25% exposição na tv medida pelo Ibope

Isso é um avanço incrível na relação entre os clubes e a tevê.

Atinge o coração da ‘espanholização’, privilégio a Flamengo e Corinthians igual ao que Real e Barcelona têm no campeonato nacional espanhol.

Ou seja, os clubes brasileiros venceram. Com o auxílio da bilionária Turner, dona do Esporte Interativo, eles conseguiram fazer com que a Globo revertesse a grande injustiça que é a distribuição de cotas no futebol deste país.

Vale lembrar como ela é atualmente.

Na Série A, lógico.

Flamengo e Corinthians, R$ 170 milhões

São Paulo, R$ 110 milhões

Vasco e Palmeiras R$ 100 milhões

Santos, R$ 80 milhões

Cruzeiro/Galo/Grêmio/Inter/Flu/Botafogo R$ 60 milhões

Outros ex-integrantes do Clube dos 13, R$ 35 milhões.

Clubes que não eram integrantes, R$ 20 milhões.

Ataíde garante que a Turner indenizará os clubes se houver retaliação da Globo, na Série A. Por exemplo, se clubes optarem pelo Esporte Interativo na tevê fechada e, a emissora que detém o monopólio do futebol deste país, não mostrar mais nenhum jogo na aberta. Eles ganhariam dinheiro da Turner.

O desgaste de Ataíde no São Paulo teve efeito colateral inesperado.

Mostrou que o futebol brasileiro está perto de ser mais justo, democrático.

A distribuição das cotas de tevê são fundamentais para a vida dos clubes.

As equipes mais populares, Flamengo e Corinthians, devem ganhar mais. É justo.

Mas não tanto a mais como acontece atualmente.

A justiça e o bom senso parecem que vão prevalecer.

A fase dos ‘amigos dos amigos’ vai acabar…

Fonte: Cosme Rimoli