Dragão, o mais tradicional e querido do Estado

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Paulo Winícius Teixeira de Paula
Especial para o Jornal Opção

Esse texto foi escrito no dia que o Dra­gão obteve mais um feito, sua primeira vitória em um torneio internacional. Perdemos a vaga, mas fiquei feliz, pois o meu time voltou a ser aquele que conheci guerreiro, brigador, de toque de bola e ofensivo, o manto sagrado foi dignificado. Nosso orgulho resplandece. Não há mau-olhado de esmeraldino (felizes por vencerem o ASA de Arapiraca) que nos tire isso, pois há coisas em que o nosso time ultrapassa em muito esse nosso conterrâneo: raça, hu­mil­dade, superação e acima de tudo tradição.

Sabemos lidar com momentos difíceis, e fico feliz em saber que nunca fomos  o time da arrogância, e sim o time da simpatia: “o mais querido dos goianos”, nunca quisemos ser os únicos, ao contrário desse “certo time verde”, que não se conformou em ver mais uma equipe do Estado ocupando brilhantemente, por merecimento, os espaços nacionais .

E olha que teríamos motivos para sermos arrogantes, afinal qual seria o time de maior tradição no Estado? Nossa agremiação não começou sua trajetória somente na década de 70, participando do Brasileirão por convite como ocorreu com um “certo time verde-oliva” que tinha ótimas relações com os manda-chuvas do governo militar. Nosso time não ampliou sua torcida em razão de apoio massivo midiático ou por conta de boas relações com os donos do poder (generais, governos, CBF ou Clube dos 13).

O Atlético surge junto com a própria fundação da capital. O atleticano tem orgulho de saber que o seu time tem um vínculo histórico com o bairro de Campinas, que deu origem a Goiânia, coisa que os verdinhos não sabem o que é: se encontrarem em um bairro aconchegante e genuinamente seu. O rubro-negro tem orgulho de saber que o bar mais charmoso e boêmio da cidade, Glória restaurante e bar, tem como decoração em suas paredes a história, os pôsteres e camisas do Atlético, de várias décadas, mas não tem do verde — no máximo quem se destaca (por ter também tradição), é o Goiânia Esporte Clube. Dragão, time dos poetas, escritores e intelectuais, tem história nas fotos de Hélio Rocha, nas letras do histórico comunista Horieste Gomes e em livro de José Mendonça Teles, privilégio e memória registrada que outros não têm.

O que mais dizer desse orgulho? Os torcedores dos times mais tradicionais, Brasil afora, sabem do que estou falando, sabem o que é ter registro de batalhas futebolísticas antes da década de 70. Atlético Goianiense, o primeiro time da capital, primeiro campeão goiano, chegou em mais de 35 finais de campeonatos estaduais, foi o primeiro a realizar a façanha de derrotar um time do Eixo Rio-São Paulo (30 de abril de 1958, 1 X 0 no São Paulo, no Estádio Olímpico), o primeiro a fazer um jogo internacional (amistoso em 0 a 0, contra o Guarany do Paraguai), primeiro time goiano a ganhar um título nacional (Torneio da Integração Nacional em 1971 contra a Ponte Preta), jogou amistoso contra a seleção da América do Sul em 1979, com o craque Sócrates ostentando o manto rubro-negro. Esse time teve a maior torcida do Estado por quase quatro décadas (40,50, 60 e uma parte dos 70) e tem até hoje o maior artilheiro da história dos Campeonatos Goianos (Baltazar, 31 gols em 1978) .

A diferença do Atlético é que mesmo com todas essas glórias, o torcedor atleticano se diferencia, não é aquele que só sabe conviver com os bons momentos, é também talhado na dor, e isso nos faz os mais fiéis e apaixonados. Mesmo com dois grandes jejuns de títulos (1972-84 e 1991-2006), com todo tipo de dirigente oportunista tentando acabar com o clube, demolir nosso estádio, não sucumbimos. Mesmo tendo que aguentar Hugão como atacante, em jogos da segunda divisão do Goiano, aos domingos às 10 horas da manhã, o torcedor não se rendeu, o time não acabou e para desespero do time verde-oliva, o Dragão ressurgiu com sua força quente, temos passado, presente e futuro.

Em sete anos (2006-2012) chegou em seis finais de Campeonato Goiano, levou três (só não levou mais por conta do apito verde-amigo); três acessos (um do Goiano, e dois de Brasileiros); uma semifinal de Copa do Brasil; participação em competição internacional; três anos de Série A com vitórias sobre todos os time do eixo Rio-SP-MG-RS (com direito a goleadas sobre São Paulo, Flamengo, Palmeiras).

Esse é o meu Dragão, que me orgulha tanto, que não precisa articular em bastidores para prejudicar ninguém, Atlético que a despeito dos que tentam nos diminuir, levava 3.000 torcedores todas as tardes de quarta-feira para acompanhar a segunda divisão do Goianão no Estádio Antonio Accioly, que levou mais de 13 mil torcedores para ver uma volta olímpica de Série C contra o Campinense da Paraíba, que chegou a públicos de 30 mil, 40 mil torcedores na Série A, com a torcida dando show e não deixando nada a dever contra São Paulo e Flamengo, que fez milhares chorarem ao eliminar o Palmeiras no Serra Dourada, em cobranças de pênaltis memoráveis e ao deixar para trás o Grêmio, no Olímpico, pela Copa do Brasil, com direito a gol do goleiro-artilheiro, de falta.

Essa nossa locomotiva rubro-negra, de raça e superação, voltou a jogar contra o Universidade Católica do Chile, pela Copa Sul-Americana, como ainda não havia jogado em 2012.

“Você voltou, Dragão”, como diz nosso hino: “onde você estiver eu sempre estarei”, você nem precisa ganhar, basta existir e lutar.

Nosso time, o mais tradicional de Goiás, com uma história “demasiadamente humana”, de derrotas e vitórias, nos levará ao topo novamente. Podemos não ter a maior torcida, o maior número de títulos, mas como diz o poeta, quem falar de história, de tradição e superação no futebol goiano sem falar no Atlético Goianiense e seus fiéis torcedores estará mentindo.
Força Dragão!

Paulo Winícius Teixeira de Paula é mestrando de História na UFG.

“Editorial na mosca”

Vanessa Freitas

Parabéns ao Jornal Opção (edição 1952), pelo Editorial. Acertaram na mosca. Creio que muitos cidadãos pensam como o que se descreve no texto: que Goiás está crescendo e é exemplo para outros Estados. Talvez não haja manifestações apenas por um sentimento popular contrário que ainda ronda o governo.

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