Bom Senso Atleticano

Escrever sobre o time do Atlético agora ficou tão óbvio quanto dizer que dois e dois são quatro. Ao meu favor, digo que, mesmo com toda obviedade, dois e dois continuam sendo quatro independentes de questionamento. Deixo, antes, avisado que não serei imparcial. Sou torcedor. Querer neutralidade em torcedor é mais difícil que achar uma vaga com sombra na Avenida 24 de Outubro.


Há muito gostaria de ter escrito sobre essa equipe, mas; no entanto, desanimado em exaltar jogadores em tempos despudorados em que seu grande ídolo pode ir para o seu maior rival na manhã seguinte, decidi não fazê-lo até hoje. Foi quando a empolgação do acesso e a possibilidade de título fizeram com que eu mandasse meu bom senso pra lá do Alabama. E, pelo visto, nem lá ele foi usado, já que os alabães elegeram o Donald Trump nesta semana. Não julgo. Até porque na minha cabeça tem final de campeonato demais para falar de fim do mundo. Voltemos ao Dragão.

Dizem que todo grande time começa por um bom goleiro. No caso do Atlético, temos três. Kléver, Marcos e Felipe fecharam o gol sempre que escalados como titular. Quando a bola entrou, foi porque existem bolas impossíveis, que mais estiveram ao nosso favor do que contra. Na zaga, contamos mais um ano com Lino, o Capitão 48, que nunca deixou a desejar em momentos decisivos. Ao final, cedeu lugar a Ricardo Silva, que deu conta do recado sem fazer conta dos atacantes. Ao seu lado estava Marllon, mais veloz e técnico do que qualquer zagueiro da série B. Sabe jogar a bola pro mato quando necessário. “Firme, correto e coerente. Vote em Marllon presidente.” E se elegeria fácil em 2018, por cumprir o que promete. Nas laterais, tivemos uma rara felicidade. Mateus Ribeiro e Romário. Na esquerda, um craque com nome de craque consagrado, na direita um nome que o próprio há de consagrar. Os dois foram fundamentais. Sempre que um se ausentou, a equipe sentiu.

No meio campo, Michel foi o ponto de equilíbrio da equipe. Bloqueou a zaga e telefonou para o ataque. Eu e meu pai, depois de uma cerveja – já que ninguém é de ferro com um time desses, vimo-lo comendo pipoca na porta do Olímpico. Pudemos falar pessoalmente que ele deveria jogar no Barcelona. Agradeceu simpático. Agora torcemos para que nenhum olheiro catalão tenha ouvido. Os outros volantes eram os Pedros Bambus. No plural. Pergunte a um adversário se existia só um. Bambus estavam em todas as partes. Um pitbull no ataque, no meio, nas laterais, na torcida, na cabine de rádio – digo que em toda criança há a figura oculta de um Pedro Bambu. Reduziram o gramado do Serra-Dourada para ficar padrão FIFA. Uma medida ecológica, pois fosse padrão Pedro Bambu, um latifúndio seria pouco.

Com a camisa 10, difícil escrever sobre as letras e canetas de Jorginho. Jovem criticado em outras temporadas, nesta foi perito. Salve Jorge! Obrigado por tudo. Com a camisa sete, o mundo dá voltas e o Magno Cruz deu a volta nele. Veio do Japão para a Campininha das Flores. Ganhou alcunha de “Mágico Cruz”. Melhor jogador do Dragão desde o Anaílson. Tem tudo para ser ídolo eterno como é o canhotinho. No ataque, Gilsinho e Junior Viçosa. Gilsinho é o atacante moderno. Ataca e marca. Jogador fiel às táticas do técnico. Monte um esquema 4-4-2, 5-3-1, 4-3-3, Sei-Lá-O-Quê, e Gilsinho fará. Um bom Vice para a chapa do Marllon. Viçosa é o mais atleticano dos atleticanos. Jogador torcedor foi o artilheiro. Em campo, fez com que se respeitassem as cores rubro-negras. Allison, seu substituto imediato, em poucas partidas fez golaços e deu assistências. Luiz Fernando, o pé de coelho do Dragão. Allison e Luiz Fernando foram oportunistas. Palavra que no dia-a-dia pode ter sentido pejorativo, mas no cotidiano futebolístico de um jogador de ataque, ofender é preciso.

Não dá para citar todo mundo, peço desculpas aos que ficaram de fora, mas ninguém precisa estar no meu texto para ser importante. Marcelo Cabo, por exemplo, seria preciso Nelson Rodrigues para descrevê-lo. No mais, resta falar do estádio Olímpico, que gerou polêmica ao receber cores azuis, mas que agora, no Centro da cidade, todos o associam ao vermelho e preto.

O ano de 2016 ficará na cabeça, no porta-retratos e nas memórias de Facebook de muitos torcedores. Carlos Drummond de Andrade, também apaixonado por futebol que era, lançou a pergunta: “Sei que futebol é assim mesmo, um dia a gente ganha, outro dia a gente perde, mas por que é que, quando a gente ganha, ninguém se lembra de que futebol é assim mesmo?”. Caro Drummond, poeta raro, agora não posso responder. Talvez quando meu bom senso voltar do Alabama. Por enquanto, estou comemorando.

Por: Pedro Augusto Barbosa Borges

 

 

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