Feliz Aniversário, Campinas! A casa do Atlético Clube Goianiense

Nosso site homenageia  Campinas em seu aniversário e para tanto relembramos um artigo do Professor Horieste Gomes, do ano de 2015, sobre a relação entre o Dragão e a Campininha.

O porquê da necessidade do Dragão jogar no Bairro de Campinas – A dimensão histórico-comunitária do campo do Atlético Clube Goianiense

Paira sob a cabeça dos que vivem ou viveram no histórico bairro de Campinas, e de todos goianos, uma expectativa no que diz respeito à disponibilização do Estádio Antônio Accioly para futuros jogos e ainda receios sobre a recorrente ideia de alguns diretores do Atlético de transformar a casa atleticana em um shopping. Um argumento sempre invocado pelos dirigentes atleticanos é que a torcida atleticana não se sente motivada pelas atuações do time, e não mais comparece aos jogos no Estádio Serra Dourada. São poucos os torcedores, sendo eu um deles, os que lá comparecem. Acontece que agora estamos falando sobre o Estádio Antônio Accioly, berço histórico da comunidade do Bairro de Campinas.

No livro, Lembranças da Terrinha, editado em 2002, pontuei:

“Nas lembranças da Campininha, sem ser bairrista, jamais poderia faltar a epopéia do Dragão Campineiro de suas lutas épicas vividas, seus áureos anos de glórias na malha verde do seu descampado gramado Antônio Accioly e do Olímpico, na época, os principais de Goiânia. Também teve os seus reveses, derrotas e dores sofridas e sentidas. O Atlético possui uma história, um passado que se mistura com a própria história da gente da Campininha. Uma história que retrata a sua caminhada rumo à edificação do futebol goiano. Possui um passado plasmado pelos filhos da terra na própria terra, por todos aqueles que aqui nasceram, que aqui chegaram e aqui viveram. E, querer ignorar, subestimar ou menosprezar essa dimensão histórica pretérita, construída com muita garra, determinação e esforço, coletivo e individual, de milhares de membros da comunidade campineira identificados pelos patronos-pioneiros, pela torcida fiel e plantel de jogadores, é revelar-se totalmente despido do verdadeiro significado do valor cultural-existencial que representa para nós, filhos da terra, a tradição histórica atleticana.[…]. Em 1942 Antonio Accioly juntamente com Edson Hermano, outro abnegado atleticano, obteve do então governador do Estado de Goiás, Dr. Pedro Ludovico Teixeira, a doação de um terreno de 18.000 m2, área depois ampliada para 30.000 m2, destinada à construção do estádio atleticano, sob termo e responsabilidade de que manteria a finalidade da doação: “A de ser uma praça esportiva destinada ao desenvolvimento do esporte em Goiânia-Goiás.”

Goiânia, cidade planejada e moderna, em ritmo acelerado de construção e destinada a ser uma sentinela avançada dentro da política da Marcha Para o Oeste, do então presidente Getúlio Vargas, nos seus primórdios, não poderia ficar indiferente às necessidades de lazer e prazer dos seus habitantes, trabalhadores empenhados na construção da nova e moderna Capital do Estado de Goiás.

Portanto, na essência do ato de doação do espaço físico, destinado à construção do futuro Estádio Antônio Accioly, está embutida o termo de responsabilidade social conferida ao Atlético Clube Goianiense, o que significa ser o guardião do estádio, não como um troféu recebido de mão beijada (no dizer popular), mas sim, com a obrigação ética e moral de ser uma praça esportiva aberta à prática de várias modalidades esportivas, entre elas o futebol para a alegria do torcedor atleticano, do cidadão goianiense e goiano. Neste contexto, a comunidade de Campinas por ser o berço de nascimento, de crescimento e desenvolvimento do Atlético Clube Goianiense, desde a década de 30 (1937), juntamente com a Diretoria do Clube, tornam-se parceiros interdependentes (interação e dependência mútua entre si), em que cada uma das partes tem responsabilidade a cumprir. À Diretoria cabe buscar recursos públicos e privados, investir e administrar o Estádio Antonio Accioly, transformando-o num “complexo esportivo”, dando prioridade a reconstrução e ampliação do atual estádio de futebol, elevando-o ao patamar oficial de doze a quinze mil lugares para os torcedores. À comunidade atleticana, tem o dever de retornar as suas raízes históricas, marcando presença física permanente em todas as disputas do Atlético Clube Goianiense. E ambos, nesta situação de dificuldades financeiras em que se encontra o Clube, buscarem saídas através de “N” iniciativas comunitárias no sentido de arrecadar fundos entre os habitantes de Campinas, de Goiânia e sua região. Daí advém a razão principal de nós torcedores atleticanos cobrarmos da atual Diretoria Executiva do Atlético Clube Goianiense o resgate da historicidade do estádio Antônio Accioly.

Se, na atualidade, o Atlético Clube Goianiense se encontra numa situação financeira e administrativa caótica, advinda de 24 milhões de reais de dívidas acumuladas da gestão passada (ou 40 milhões, visto que a cada momento nos repassam uma informação diferente); de 110 ações trabalhistas não quitadas; do atraso da folha de pagamento, de um a três meses; de retenção de dinheiro na Caixa Econômica Federal por não ter condição de apresentar certidão negativa de dívidas, etc., o que não deixa de ser uma realidade negativa que não se pode negar, entretanto, há aspectos positivos que não se deve ignorar. Vejamo-los:

– no âmbito da história do Atlético, o estádio Antônio Accioly sempre esteve lotado em todas as partidas ali realizadas. Sempre presenciei casa cheia em dezenas e dezenas de partidas ali assistidas. O torcedor da Campininha sempre manteve a sua fidelidade ao time campineiro. Portanto, o argumento atual de que a torcida atleticana não comparece ao estádio, no caso o Serra Dourada, para incentivar o time e os jogadores em campo, tem outra faceta. Temos que valorizar a nossa própria casa, à semelhança do que faz o Goiás na Serrinha e o Vila Nova no OBA. O primeiro passo a ser dado é o da recuperação do estádio Antônio Accioly para treinos e para jogos. A comunidade de Campinas, hoje muito mais enriquecida por possuir o maior comércio atacadista e varejista de Goiânia, por gerar mais renda e mais empregos (cerca de 50 mil), não deixa dúvidas aos senhores responsáveis pela administração do Atlético, de que muitos dos seus membros participarão como voluntários-cooperadores nesta maratona de recuperação do seu patrimônio histórico. O que está faltando é planejar e por em prática um projeto esclarecedor que envolva o maior número de cidadãos da comunidade campineira-goianiense em atividades práticas, sociais e culturais, destinadas à arrecadação de fundos para a reconstrução do Estádio Antônio Accioly. Por sua vez, o poder público municipal e estadual, como já fez em outras ocasiões, não deixarão de dar apoio à iniciativa desta natureza.

– não podemos nos esquecer, jamais, de que a casa do torcedor atleticano é o Estádio Antônio Accioly. Nele está inserida toda a história e afeição do campineiro pelo seu time. No atual momento, não basta cobrar a presença física dos torcedores rubro-negros no Serra Dourada para apoiar o Atlético em seus embates, se a afeição (alma) do atleticano está plasmada no estádio Antônio Accioly. Somente ele, reconstruído e funcionando, trará a torcida atleticana de volta.

– substituir o campo do Atlético pelo novo Olímpico (Estádio Pedro Ludovico Teixeira) a ser inaugurado em breve é uma ilusão. Apesar  de ter sido uma segunda casa do Atlético antes da inauguração do Estádio Serra Dourada, em 1975, ele não é o guardião da epopéia histórica do Atlético Clube Goianiense. Esta pertence ao estádio Antonio Accioly onde foi forjado o espírito combativo do Dragão da Campininha.

hori

(Horieste Gomes, torcedor do Atlético Clube Goianiense, historiador e autor dos livros “A saga do Atlético Goianiense” (2015);  Reminiscências da Campininha (2012) e Lembranças da Terrinha – Campininha (2002))

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