ATLÉTICO: Sem manter uma base perde identidade e qualidade em campo

Temos o costume de acreditar que fases ruins são passageiras e nos trazem uma série de ensinamentos, que tudo é uma questão de tempo para as coisas se acalmarem e tudo se reestabelece. Mas nem sempre é assim na vida do atleticano, a fase ruim do clube já vem se prolongando por dois anos, ocasionada por uma sucessão de equívocos e políticas de gestão. E o pior de tudo: o torcedor não vê perspectivas de melhora.

Tido por muitos como exemplo de gestão no âmbito do futebol, o Atlético, a partir de 2005, se tornava referência para os rivais locais e para o Brasil. Um clube modesto, com pouco dinheiro, mas que se reestruturava, dava aulas de futebol e entrosamento.

Entrosamento que só foi possível por conta da filosofia de trabalho implantada desde 2005, em que era mantida uma base forte do elenco, tornando o clube competitivo nos campeonatos que iria disputar, criando uma identidade dos jogadores com o clube e com a torcida. A cada 10 torcedores do Atlético, 11 se lembram da escalação do time Campeão Goiano de 2007 e Campeão Brasileiro da Série C de 2008. Essa era a nossa receita de sucesso.

No entanto, estranhamente a partir de 2017 as coisas degringolaram, é perceptível uma mudança na política de contratações realizadas pelo Atlético. O poder teria subido à cabeça? Não acredito que após 12 anos desaprenderam; questiono, pois tudo coincide com a aclamação de Adson Batista, até então Diretor de Futebol, para a Vice-presidência do clube. Vejamos alguns dados assustadores para a torcida mas bem simpáticos a empresários de jogadores:

  • Em 2014 o clube contou com 22 jogadores, 50% do elenco foi mantido para a temporada seguinte;
  • Já em 2015, tivemos 27 jogadores no elenco, 14 deles foram mantidos para 2016 (51% do elenco mantido);
  • No ano de 2016, o melhor da história do Atlético, tivemos 34 jogadores no elenco, onde apenas 11 foram mantidos para a temporada de 2017 (32%), perdendo vários de seus destaques para outros clubes por puro desinteresse e miséria da diretoria, que viria a contratar Walter e cia em 2017 e gastar com uma folha salarial de quase 1,5 milhões mensais ;
  • Em 2017, o elenco do Atlético contou com nada menos que 51 jogadores, e acreditem, apenas 6% é remanescente em 2018.

Para um clube que está “sanando dívidas”, entende-se que existe a necessidade de um plantel enxuto, mas no Atlético aconteceu o contrário, trouxemos o dobro dos elencos de 2014 e 2015, um verdadeiro caminhão de jogadores para 2017, ano em que Adson se tornou “dono” do clube. Em 2018, um novo “caminhão” foi descarregado nas portas do CCT Urias Magalhães, com jogadores que não possuem nenhuma identidade com o clube, em sua grande maioria aventureiros.

Assim como em todas as empresas ou ambientes corporativos, no Atlético todos os funcionários são advertidos ou afastados quando erram ou não executam bem suas funções, sejam jogadores, fisiologista, técnico, preparador de goleiros, etc., mas o Diretor de Futebol/Vice-Presidente, aquele que contrata os jogadores, nunca é questionado por seus atos e cada vez com mais poder se aprofunda numa política de inúmeras contratações sem a manutenção de uma base, ficando na zona de conforto com baixa produtividade, além de sempre utilizar a baixa presença de público em jogos do Atlético para justificar o rendimento vergonhoso em campo.

Se em 2007 funcionasse a filosofia equivocada dessa atual Diretoria Atleticana, aquele elenco que perdeu o acesso para a Série B no último jogo contra o Barras do Piauí, que tinha jogadores como Lindomar, Anaílson, Márcio, Robston e Pituca, teria sido dispensado. Eles não teriam sido mantidos para o ano de 2008, se contrataria inúmeros novos jogadores, e muito provavelmente não conquistaríamos o título e o acesso no ano seguinte, além disso, a torcida não os teria como ídolos, tão importantes para a caracterização e identidade de um clube.

Seria egoísmo dizer que estamos no fundo do poço, mas nem o mais pessimista dos atleticanos imaginava que o clube estaria hoje lutando contra o rebaixamento no fraco e defasado Campeonato Goiano.

É preciso lembrar que o Atlético existe há mais de 80 anos, os dirigentes passam e o clube fica. Se eu cometer uma infração de trânsito, terei que responder por isso, o fato de ter dirigido bem um carro por 10 anos não fará o Detran me eximir de uma autuação apenas por ter feito a coisa correta anteriormente. Cobrança não é sinônimo de ingratidão assim como humildade para reconhecer que errou, e procurar corrigir erros,  que aliás os dados deixam tão claros, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter.

Carlos Caetano Souza Mesquita – Graduando em Direito na Universidade Salgado de Oliveira

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