2019: O Ano do Dragão, do Accioly e da Torcida Campineira (Parte 1)

O ano de 2019 foi mágico para o torcedor rubro-negro! Desde 2010 a torcida não iniciava o ano assistindo um Campeonato Goiano na sua casa, na Campininha das Flores, desde 2014 não ganhava um Campeonato Goiano, e desde 2016 não tinha um acesso para a série A. Tudo isso aconteceu, e ainda vencendo 5 clássicos no ano, atropelando o Vila Nova no Goiano e no Brasileiro, goleando o Goiás e ganhando facilmente os dois jogos da final do Estadual – com o detalhe de que a revelação esmeraldina, Michael, sequer viu a cor da bola – e ainda ganhando na Copa do Brasil do Santos (vice campeão brasileiro de 2019) em pleno Accioly, lotado de rubro-negros. O maior público do futebol goiano até o quarto mês do ano foi o do Atlético, com 10.525 torcedores na vitória contra o Santos, no qual a Diretoria fez um grande ato de reconhecimento ao torcedor atleticano e limitou a apenas 10% os ingressos para a torcida visitante.  Pois é, o atleticano fez barba, cabelo e bigode em 2019.

No Campeonato Goiano, o Dragão teve uma campanha espetacular com 14 vitórias, 02 empates e somente 02 derrotas. Jogou 6 clássicos e ganhou 4, perdendo apenas um deles. A média de público do Atlético no Campeonato Goiano foi de pouco mais de 4.000 torcedores presentes, sendo 3.100 pagantes, bem maior que nas 5 edições anteriores do Goianão, que não pôde jogar no Accioly. Os cerca de 5.000 torcedores na vitória contra o Goiás e os 7.000 atleticanos na vitória contra o Vila Nova mostraram a força do caldeirão. O Estádio fez toda a diferença no desempenho em campo, ali não perdeu nenhum jogo no Estadual, foram 8 jogos e 8 vitórias.

E as vitórias não se faziam presentes só dentro de campo, o Atlético foi o primeiro clube goiano a estrear sua marca própria de uniformes (coisa que o rival verde oliva já tratou de copiar), também no aniversário do clube, no mês de abril, foi criada a Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural do Atlético, a qual tive a honra de assumir, tendo em vista a criação do Museu da História do Atlético Goianiense. As doações para o Museu do Dragão não param de crescer e a expectativa para 2020 já é enorme para a inauguração. O vice-presidente do clube Sebastião Santana foi um incansável entusiasta do investimento no patrimônio do clube, desde buscar completar a cobertura das arquibancadas em 2019 até a idealização e preparação para a construção em curto prazo do “Complexo Respeita as Cores” reunindo no Accioly um bar/restaurante, loja de produtos do clube ampliada e Museu do Atlético.

Ainda no primeiro semestre, depois de muito tempo, o clube voltou a ter uma experiência com uma profissional dedicada exclusivamente ao Marketing. Angélica Carvalho assumiu a função pensando a relação do clube com o torcedor, com o Estádio e o fortalecimento da Identidade do Atlético Goianiense. O Marketing trabalhou várias ações de motivação para a torcida, como fogos, fumaça, homenagens, aniversário do clube, mobilização para os jogos, a campanha “Jogue Limpo” que o atleticano se responsabiliza por não deixar lixo no Accioly e, entre tantas outras, se empenhou para a efetivação do “Tour do Dragolino”, mascote do clube, tão bem caracterizado e interpretado por Paulo Marcos, e que fez os pequenos atleticanos passearem dentro do campo de futebol em todos os jogos no Accioly, felizes com seu time de coração. Angélica sem dúvida deixou uma semente plantada para que agora, mais estabilizado, o clube possa retomar a ação profissional de Marketing, pensando um grande projeto com objetivo de “Reconstrução e Crescimento da Torcida do Atlético”, e quem sabe um sócio torcedor que o atleticano tanto almeja.

A relação entre o clube e o Bairro de Campinas foi reatada como há muito não se via. No dia do aniversário de 209 anos da Campininha das Flores, o Atlético fez uma homenagem especial em frente ao Estádio Antônio Accioly. Com direito a bolo, convite a torcedores e moradores da região, entrega de placa a campineiros e atleticanos históricos – como o fotógrafo Hélio de Oliveira, o professor aposentado da UFG Juarez Barbosa, e o ex-jogador Lindomar de Paula – foi celebrado o nascimento do bairro que é a casa do Dragão. Fica o registro de que essa foi a última atividade pública do nosso saudoso Sergio Cruz, então diretor de Relações Sociais do clube, representando o Atlético e entregando as homenagens ao lado do vice-presidente Sebastião Santana e do Historiador Horieste Gomes. Infelizmente “Serjão” viria a falecer pouco tempo depois.

Bom, se o Atlético crescia fora de campo, concomitantemente os olhos se voltavam para o Campeonato Brasileiro da Série B. E lá fomos nós, com sangue, suor e lágrimas conseguimos mais um acesso para a Série A, esse sem dúvida o mais difícil e sofrido de todos. E o acesso foi conquistado onde? No Estádio Antônio Accioly. O mesmo estádio que lutamos tanto para ver reerguido foi o palco do empate em 0 a 0 contra o Sport Recife na última rodada. O gol decisivo do acesso foi o da rodada anterior, que garantiu aquele pontinho definidor. E foi de quem? De um jogador goiano, formado na base do Dragão, o lateral esquerdo Moraes, no penúltimo jogo, nos acréscimos, o gol do empate em 2 a 2 contra o Brasil de Pelotas, lá no Rio Grande do Sul. Foi assim a escalada: bairro, base, torcida, estádio, jogadores, diretoria do clube… cada esforço, cada detalhe, fez a diferença. Ao final a campanha que manteve o Atlético por 30 rodadas, de 38, no G-4 para o acesso, teve 15 vitórias, 17 empates, e 06 derrotas, alcançando os 62 pontos que nos classificaram na 4ª colocação (detalhe é que com todas dificuldades ainda tivemos uma campanha melhor do que a do acesso do Goiás em 2018, em que nosso rival milionário perdeu 14 jogos e fez somente 60 pontos, pontuação com a qual sequer subiria em 2019).

Tivemos emoções de todos os tipos nesse Brasileiro, vitória sobre o Vila Nova por 2 a 0 no Accioly, o triunfo do Dragão após estar perdendo por 2 gols e virar a partida para um 4 a 2 contra o Operário-PR jogando em casa, vitória com autoridade sobre o Coritiba fora de casa por 2 a 1, um empate emocionante contra o Sport lá em Recife por 1 a 1 e vitória de tirar o fôlego contra o América-MG ainda no primeiro turno por 1 a 0 em Belo Horizonte. Porém a reta final foi para testar o coração do rubro-negro, ocorreu uma queda avassaladora de produção do time nas últimas 15 rodadas – foram 9 empates e 2 derrotas – o que foi uma das razões da chegada do técnico Eduardo Barroca para o lugar de Wagner Lopes, concomitante a isso tivemos nesse período o “Sobrenatural de Almeida” com 4 pênaltis perdidos em 4 jogos e por 3 jogadores diferentes (Mike, Pedro Raul e Nícolas) e ainda 5 jogos em que o time abriu vantagem e tomou o gol de empate nos últimos 10 minutos (Bragantino, América-MG e Cuiabá em casa e Vila Nova e Operário-PR fora). Para finalizar nossa odisseia na Série B, o “Inacreditável Futebol Clube” jogou a nosso favor, a improvável derrota do América-MG em casa na última rodada e nosso empate contra o Sport nos deu o acesso, Accioly com uma boa presença de público, que não desistiu do sonho, foi então tomado de alegria e emoção.

 

 

Paulo Winícius Maskote– Atleticano, Campineiro, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP.

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